Comigo
era assim, moda de sapato que aparecesse logo tinha que a ter, se na
cidade não houvesse pois eles vinham da vizinha Rhodesia, bastava
dar o recorte de papel da figurinha e pedir aos chofres da Swift ou
da Clan companhias de camionagem que transportavam carga da Rhodesia
para o Malawi e vice versa.
Tinha
sempre a ultima moda, feitio e cores. Cheguei mesmo a ter uns cor de
laranja que eram lindíssimos.
Sei
que era vaidosa, ao ponto de eu mesmo fazer os meus vestidos com
tecidos comprados nas lojas da cidade, salvo os de festa como Fim do
Ano que entregava as modistas que trabalhavam para mim.
Reconheço
hoje que esta vaidade era demais, especialmente quando olhavam de
lado para os meus pés pessoas que calçavam sandálias baratas
compradas na sapataria do Casimiro Martins ali no edifício Carlettis
ou em qualquer outra na cidade.
Dependia
da bolsa da cada um, até que um dia aparece a moda das sandálias
feitas de pneus velhos, chamavam o calçado Hippy que se tornou moda
em muitos pezinhos até porque os fabricantes locais levavam barato.
Confesso
que nunca tive nenhuma, como hoje se diz achava brega, calcado de
pobre para não andar descalço, e na mesma altura aparecem as socas
de madeira com a parte superior em camurça de cores variadas.
Claro
esta menina teve umas de cor roucha que nunca mais acabaram até que
um dia as pintei de preto e acabei por da-las.
Ao
“passear” pela Internet dei com esta imagem de uns pés cansados
de andar, sim porque em África o povo local, andavam quilómetros
por estradas de terra batida, ou carreiros pelo mato fora onde a
matacanha e as micaias picavam sem dó, sempre que o povo precisava
de ir buscar agua ao rio ou á cantina, aliás andavam sempre
descalços talvez por isso a pele da planta dos pés fosse tão
grossa, para os proteger de tudo isto.
Ora
a imagem que encontrei recordou-me muito que aquele povo passou na aldeia sita no meio do nada, precária que duvido os
protegesse dos animais bravios que vagueavam pela noite.
Cobriam
-se com capulanas, hoje também moda entre nós que vivemos naquelas
terras,
viviam
das suas machambas do milho que tiravam e á posterior trocavam nas
cantinas por bem essenciais que precisavam, tais como sabão, sal e
açúcar.
Mas
voltando ao calcado feitos de pneus velhos, estes usados mais pelos
homens não imagino porque, mas talvez por se tornar pesado para as
mulheres andarem todo o dia nas suas lides.
E
esta imagem é exatamente como me lembra que eram usados por pés
cansados, gretados, cansados e velhos.
Ao
fim de tantos anos os meus pensamentos mudaram e bem no fundo
sinto-me culpada pelo tanto que poderia ter sido feito por aquela
gente mas nada foi nem por nós nem pelo Governo.
Se
eram felizes assim?
Não,
mereciam ter ajudas para facilitar a sua vivência, escolas, roupa e
calçado, talvez se assim tivesse sido, hoje estaríamos na nossa
África.
O
que lamento é após a independência o mal continua, apenas uma
parte deste povo teve a oportunidade de subir na vida, os outros
continuam descalços, ou com sandálias de pneu, as crianças de
calção e camisola suja e rota de mão estendida esperando a esmola
para viverem o dia a dia e mal.