Hoje
deu-me para a saudade!
Isto
acontece sempre que estou de ferias impossibilitada de sair devido ás
intempéries.
Pego
nas velhas fotos que se encontram perdidas dentro de uma caixa e vou passando
uma a uma.
Já
velhinhas muitas delas perdendo a cor, vão acordando tempos passados que se
encontravam adormecidos na memória.
Memorias
boas, outras nem tanto.
Encontrei
fotos tiradas quando da minha chegada a Portugal, fotos da decadência da vida para
a qual nos empurraram, numa aldeia perdida num vale fora de toda a civilização,
rodeada de gente boa trabalhadora, com mãos gretadas tez queimada pelo sol, habituados
á vida dura do cavar e semear os campos, tratar do gado, comer do que tudo isto
lhes dava.
Eram
felizes, reconheço-o mas para mim foi um choque.
Jamais
tinha estado em Portugal não fazia a mínima ideia de como era viver nestas
terras, onde o calor eram bom mas o frio insuportável.
Onde
poucas eram as casas que tinham casas de banho, onde se cozia o pão no forno da
aldeia no meio de tanta caruma e giestas pelo caminho, se cozinhava em panelas
diferentes das nossas, de ferro e com pernas numa lareira sempre acesa que
tinha que ser alimentada com a lenha que transportava nos braços trazida das
lojas.
As casas
escuras de pedra, os colchões de folhelho, o peso das mantas de trapos, á mesa
uma malga de sopa e um comer tão diferente do nosso.
Hoje
acho tudo normal mas naquele tempo foi um período de grande sofrimento,
No meio
e tudo isto duas crianças de olhitos arregalados de espanto olhando-nos como
que quisessem entenderem o porquê de tudo.
E as
gentes, que nos olhavam de soslaio pois eram os retornados que habituados a boa
vida fazia-nos bem saber o que a vida custava.
Um autentico
“apartheid” entre brancos de cá e de lá.
Meu
pai como timoneiro de toda a família agarrou em nós e levou-nos para a cidade,
um apartamento alugado, apenas com as camas, uma mesas quatro bancos um fogão e
um frigorifico.
O
que se pode comprar na altura.
Foram
tempos muito difíceis, houve separação da família, á procura de emprego, muitas
lágrimas, uma luta intensa ate chegarmos onde hoje nos encontramos.
Se
foi tudo mau, talvez mas no meio de tudo isto ficou a força e a união familiar
o amor entre nós e a forma como lutamos sem nunca nos perdermos,
Por
isso olho hoje para esta foto com muito orgulho e saudade.