Há dias encontrei um amigo de longa data e sentados ao fresco do
cair da tarde fomos recordando velhos tempos onde as horas eram maiores e os
dias mais pequenos no entanto havia tempo para tudo.
Na verdade foi uma terra abençoada, que nos deixa imensas
recordações.
Numa conversa descansada veio à baila os pontos de encontro ou
digamos antes os locais de convívio à época:-Bares e cafés de Tete, e acreditem
que fiquei a saber mais agora que sabia sobre os imensos locais onde se podia
encostar a barriga ao balcão e matar a sede com uma cerveja estupidamente
gelada e sempre acompanhados por um amigalhaço ou beber uma “mazagrin”, uma coca
-cola ou simplesmente um café.
Eles existiam por toda a parte, e eram seleccionados para os
mais remediados ou para os mais pobres, pelo hábito de saber estar naquela hora
os companheiros da “Má-língua” ou alguma miúda que andassem de olho nela.
Por companhia a boa cerveja moçambicana como a Laurentina, a 2M ou a Manica, era ao gosto do freguês, na
certeza porem que não eram baptizadas.
Indispensavelmente as geladinhas vinham sempre acompanhadas
pelos pires de tremoços, amendoins ou mesmo um petisco melhor ao fim de tarde
como a dobrada bem picante, cheia de palitinhos nela espetados e alinhados, com
um aspecto e sabor do outro mundo. Era usual ser este o petisco do bar Soares Pereira
ao fim da tarde sobre as mesas de ferro pintadas de verde, com quatro cadeiras
da mesma cor com base e encosto de chapa.
Mais a cima à esquerda o Bar Alves e mais abaixo à direita o Bar
Central propriedade de um velho residente que passou a ter o seu nome “ Bar
Melo” ou pensão Melo, onde muitos magalas e pessoal trabalhador passavam as
tardes na sombra fresca da varanda, ou jogando matraquilhos mesa já a descambar
mas que funcionava perfeitamente nas apostas do vencedor do jogo que acabava
sempre por pagar uma rodada á malta.
Pela Circunvalação, o Copacabana e o Pic nic, balcão de linóleo
mesas de madeira onde se esparramavam na conversa enquanto descansavam ao fim
do dia.
Houve um bar castiço “O China” bem a beirinha do rio onde os
camarões e o peixe frito fazia as delícias da malta. Quando o rio enchia é que
era o cabo dos trabalhos. Mas era engraçado ao anoitecer aquelas luzinhas
acesas como que perdidas no meio do rio.
Depois o Almadia, o Beira Alta.
Não me lembrei em qual deles se saboreava os passarinhos fritos
que o velho João coxo caçava pela manhã e se degustavam pela tarde.
Aproveitando o movimento e bem juntinho aos cinemas lá estava o “Domino”
mais elegante já com ar condicionado e um homem culto à frente Sr. Ferrão que
me não lembro como lá foi parar mas acompanhava todas as conversas com um conhecimento
extraordinário enquanto pelas mesas interiores no ar condicionado se instalavam
a toda a hora fosse pelo café, ou pelo excelente whisky ao fim da tarde ou saboreando
a bela tosta mista com uma coca-cola ou um Vinto bem fresco.
E era no final das secções dos filmes que se enchia a esplanada
até altas horas da noite em conversas entre amigos ou conhecidos.
Alias quem chegasse àquela terra, tornava-se logo um amigo
Pela localização, junto ao colégio, também ponto de encontro de
muitos namoricos entre o intervalo das aulas.
Mais adiante, altaneiro os “Carlettis”, mais frequentado pelos funcionários
públicos, famílias ou gente que ali se deslocava aos escritórios do Dr. Tramela
Conde, ou ao do Sr. Mário de Corte Real Chaby.
Aqui os pastéis de bacalhau e as chamussas eram do melhor que
havia.
Muitas festas se fizeram aqui, casamentos baptizados ou
bailaricos.
As gentes de trabalho, camionistas etc. poisavam no Bar Freitas
pouso certos de quem calcorreava as estradas e chegava com o estomago a dar
horas e as gargantas secas do pó das picadas.
Ora já para o fim e para receber os frequentadores da missa aos
domingos, no fim da Avenida General Bettencourt onde foi edificada a Catedral da
cidade, la estava o Zambe.
Sossegado diria eu ao domingo pois os homens fiéis a religião
não falta ali á hora missa, com a desculpa de estar a igreja cheia ou outra
desculpa qualquer.
Na mesma avenida mais para meio o café Zambeze que muito já se
falou, local recatado talvez por ser um hotel e demasiado exposto á rua. Era no
entanto aqui onde os homens de negócios tratavam da vidinha deles, e se algo
ficava pendente acabavam a noite no Aero Club, olhando a noite estrelada e o
Zambeze calmo.
De seguida quase em frente as Obras Públicas a Marisqueira, onde
o marisco era rei.
Por fim a Caravela e o Bracarense onde os pastéis de nata faziam
as delícias de todos.
Se algum dos meus leitores se lembrar de mais coisas pois diga, sempre complementa esta cronica da nossa terra.
Não falo nas modernices nocturnas que apareceram mais tarde tais
como “Costa Cigano” ou o Maxime pois o que por lá se passava era falado no
secretismo total talvez para que as mulheres não se apercebessem onde os
maridos se perdiam entra copos de whisky marado ou com outras bebidas bem como
os amendoins pagos a preço de camarão importado.
Muitas famílias se desfizeram à conta das noitadas onde a dança
e as bailarinas os deixavam embasbacados.