Minha querida amiga
Vou aqui
responder ao teu telefonema:
Tete
era uma cidade muito quente, mas talvez não da temperatura do ar porque por cá
as temperaturas idênticas não são tão quentes, mas talvez porque a ela se
juntasse o calor imenso das amizades.
Também
nunca ninguém se queixou tanto assim porque sabia bem os fins de tarde nas
esplanadas a conversar aproveitando a brisa fresca que fazia, ou também o ar condicionado
do Cine S.Tiago ou do Cine Estúdio 333 enquanto rodava um filme qualquer
interessante ou não para muitos que aproveitavam a namorar “no escurinho do
cinema” como bem diz Roberto Carlos.
Recordando
mais calmamente também não era muito arborizado, o que havia eram as acácias enormes
dos jardins públicos e as que ladeavam a avenida, ali postas também para
mitigar o calor de quem por ali andava a pé
Fora disso as acácias, as malambeiras e os matos
que circundavam a cidade onde o povo se deitava á sombra esperando o calor
passar.
Nos quintais
sim, havia imensas árvores de fruto. No meu tinha goiabeiras, ateiras,
laranjeiras, figueiras e uma enorme parreira que cobria o carro do sol quente.
E eram
doces os frutos que davam, tínhamos tudo á mão todo o ano quase incomodavam pelo
excesso pois caiam ao chão o que deixava um forte cheiro a azedo nada agradável.
Mas ainda
me cresce água na boca lembrar o gosto doce das goiabas vermelhinhas por
dentro, talvez por isto fazíamos o tão falado doce de goiaba ou marmelada que
cobria as fatias de pão cozido na padaria Flor de Tete, á hora do lanche.
Ahh
ia-me esquecendo das enormes maçaniqueiras que além da maçanica docinha faziam
uma sombra fantástica. Curiosamente foi do cimo de uma que virada para a avenida
em frente de minha casa, onde “catrapisquei” o furriel que hoje é o meu marido.
A
cidade cresceu muito nos últimos anos, muitos bairros foram crescendo onde
lindos chalés com piscina faziam o orgulho de seus donos.
A vivenda
do Sr.Borges da Soel, do Sr. Ribeiro da Socote, do Sr. Cunha dos Cristos
Luscos, e muitas mais quase lado a lado num bairro que cresceu para lá da
avenida quase em frente da minha casa.
Por de
trás do velho hotel Silva onde por fim se transformou em quartel nasceram também
casas lindas numa rua calma, e nova.
A
casa dos Limedes, do Prof.Gonzaga, dos Mendes Batista etc.
Para o
lado da chamada “temba” as construções também cresceram, rodearam a escola Comercial
ao lado da cada do Sr. Bispo, D.Felix de Nisa Ribeiro e ao lado da casa da
Clarinha Oliveira.
Assim
identifico tudo porque assim me lembra delas ligadas aos nomes das minhas
grandes amizades.
Havia
um prédio com papelarias, peixaria, padaria. Ainda lá estão e visitei-os com
outro comércio mas bastou-me fechar os olhos e ver tudo como era de antes até
as mesmas pessoas.
A
avenida principal que quase acabava na casa do velho Jasso Correia da Silva,
para os mais velhos, rompeu até ao estremo onde construíram a “catedral” de
Tete.
Está do
mesmo modo, imponente esperando os fiéis ao domingo, só já não está ao lado, o café
Zambe onde paravam os cavalheiros á espera do fim da missa.
Por de
trás da catedral, outro bairro cresceu onde morava Augusto Santos, Violante
Figueiredo, Lucílio Gomes e tantos outros.
Afinal
Tete era mesmo grande, em território, em vivendas, em gentes e amigos.
Após tantos
anos reergueu-se e cresce novamente.
Quem sabe
um dia não vou ver tudo como está como é hoje!