“Eu, por exemplo, gosto do cheiro dos livros. Gosto de interromper a leitura num trecho especialmente bonito e encostá-lo contra o peito, fechado, enquanto penso no que foi lido. Depois reabro e continuo a viagem. (…) Gosto do barulho das páginas sendo folheadas. Gosto das marcas de velhice que o livro vai ganhando: (…) a lombada descascando, o volume ficando meio ondulado com o manuseio. Tem gente que diz que uma casa sem cortinas é uma casa nua. Eu penso o mesmo de uma casa sem livros.” Martha Medeiros
Biografias por Encomenda
Algures numa página do Facebook este pequeno trecho.
Na altura comentei-o, ao mesmo tempo que acordaram em mim
sentimentos esquecidos há muito, tal como um velho amor que se recorda.
Dei comigo a procurar livros que já se encontravam guardados na
estante mais alta e que há muito de lá não saíam
Felizmente a leitura foi algo que naturalmente se impos na família,
afinal Africa, pela sua temperatura tórrida, tinha a “mania” de convidar todos
a longas sestas e nem sempre seriam para dormir.
No fresco do ar condicionado, era o livro que tínhamos por
companhia, que nos levava além da imaginação.
Um dos primeiros livros que me foi oferecido tinha cerca de 10
aninhos. Um livro de Walter Anderson “ A CAIXA MAGICA”, contos de encantar de
reis e rainhas, príncipes e princesas, escravas e senhores numa fantasia
magica.
Estima-o com todo o cuidado, era o melhor livro encadernado que
tinha. Um dia pediram-me emprestado, deixaram-no á chuva e devolveram-mo assim.
Feio e estragado continua
guardado carinhosamente
Com o passar dos anos
foram os romances que passaram acompanhar-me nas longas sestas.
Dr. Jivago, família Forsyte
etc.
Os amores e desamores no
meio de num jogo de palavras que sem querermos participávamos tomando partido
dos intervenientes como se nos fossemos o protagonista.
Dai o salto para os livros
de poesia, poemas de saudade, de amor traduzido em palavras que me extasiava.
E lia, lia tudo que
estivesse ao meu alcance.
Escritores bons (que ainda
hoje releio) e os nem tanto (o que acabava por deixara a meio por falta de
interesse).
E assim fui enchendo as
estantes de livros que tenho sempre á mão para me fazerem companhia.
Mia Couto, Pepetela,
Aniceto Afonso, João Paulo Borges Coelho, Carlos Vale Ferraz, e todos que me
falam de Africa
Para os mais esquecidos,
sugeria a leitura de “Os Colonos”, porque hoje recordam apenas a vida fausta e
boa e nem sempre assim foi.
Outros abriram caminho
para que isso acontecesse.
“Partiram de mãos vazias. Enraizaram-se e amaram a
terra. Mudaram África e foram mudados por ela. Uma história de paixões e
desilusões, mas também de heroísmo e sobrevivência.
Ouvimos com frequência dizer, ao longo das últimas décadas, que
a nossa descolonização foi mal feita. Mas poucos lembram que a colonização não
correu melhor. O que aconteceu, afinal, aos colonos que partiram para terras de
África? Sem traumas ou preconceitos, este romance acompanha a epopeia dos
madeirenses que fundaram o Lubango, no Sul de Angola.
Na segunda metade do século XIX, esgotado o filão brasileiro, os
olhos de Lisboa dirigiram-se para o interior africano. Era tarde. O ultimato
britânico avizinhava-se. Através da história da família Zarco e da fundação da
cidade de Sá da Bandeira, narram-se neste romance as vidas de gente humilde que
procurou um futuro melhor. Vidas carregadas de esperança e do desejo de vencer.
Gente que lutou e amou, intensamente, e que na maioria dos casos morreu pobre.
Por tudo isto, os livros são meus companheiros, transportam-me a vivências passadas, o cheiro do papel, as anotações que vou colocando a lápis, os parágrafos marcados, e o que se encontra guardado dentro dessas paginas.
Ontem mesmo ao rebuscar um livro encontrei entre paginas um botão de rosa seco já quase a desfazer-se, oferta de alguém muito importante certamente, e que ali deixara o seu perfume á época.