(imagem da internet)
Todos os anos a mesma pergunta “ONDE ESTAVA NO 25 DE ABRIL?”
E esses anos foram passando já lá vão 40.
Das muitas pessoas que sempre foram questionadas sobre isto aos
poucos foram desaparecendo ou encolherem os ombros perante a mesma pergunta
pertinente.
Os mais novos esses continuavam na mais pura ignorância do que foi
e porque foi o 25 de Abril.
Com o passar dos tempos esses mais novos cresceram e foram-se
apercebendo da coisa ou porque estudaram, ouviram falar ou mais grave porque acabaram
a sentir também a consequência dessa data.
Mas também não vou falar disso porque aqui em Portugal foi o
libertar de um ditadura sobre um povo pobre e sofredor.
Agora onde eu estava no 25 de Abril, sim é disso que aqui vou
falar.
Nesse dia estava em terras de Africa, esse país onde nasci, filha
de um casal que havia elegido há muitos anos como sua pátria esse pedaço de
Portugal onde encontraram as condições para constituir família e serem felizes.
Não se pense que era a terra da árvore das patacas que bastava abanar
e ficavam ricos.
Não, se alguém fazia vida era com muito esforço e trabalho.
Ora nesse dia ao levantar-me pela manha reparei que tudo estava
diferente, tudo de transístor colada ao ouvido e a sussurrarem palavras não
fosse alguém infiltrado da PIDE ouvir alguma palavra que acabassem por leva-los
para o xelindró
Aguardavam a confirmação do que chegava por meias palavras através
da RSA temendo desde logo o que por ai viesse.
Na altura desvalorizei o assunto, porque achei que deveria haver a independência
merecida, dum pais que apenas servia para enriquecer Portugal e que o fazia á
custa da vida de muitos militares que lutavam numa guerra sangrenta.
Não passou muito tempo que não passasse pela avenida um desfilar de "berliets" transportando corpos “encaixotados” de militares que no dia anterior
perderam a vida nessa guerra que se revelou inglória e estúpida.
Pensava eu que após este golpe de estado, haveria a retirada dos
militares pacifica após uma negociação para a independência de Moçambique.
Ora neste caso, era-me indiferente que ficasse a governar o país um
Moçambicano em vez de um Português e que a vida seguiria calmamente.
Na verdade as feridas da guerra e os ódios tinham que ser
cuidadosamente
Resolvidas e respeitadas
Mas não, essa Metrópole que eu nunca tinha visitado, e que apenas
conhecia dos livros escolares, representada por alguns políticos á época, resolveu
negociar essa retirada, de tal modo que foi uma pressa entregar tudo sem
garantias de segurança para os portugueses que viviam.
E num abrir e fechar de olhos vimos todos a encaixotar vidas que
não cabiam neles por muito que se tentasse.
Um desmoronar de identidades, de anos de luta de vidas feitas, bens
retirados, famílias desfeitas uma debandada total, no regresso de milhões de
portugueses a Portugal dado como único destino possível.
Foi uma descolonização vergonhosa, para mim uma fuga apressada de
Portugal após um tratado, vulgo negociata gorda de gente apressada em gozar a
tal liberdade do 25 de Abril.
E todos os portugueses e não só, envolvidos nesse imbróglio, sofreu
e muitos ainda sofrem o refazer da vida novamente.
Quarenta anos passaram, Portugal envolvido em diversos governos indescritivelmente,
mal governados, foi andando, entre épocas faustosas e épocas endividadas com
gente que entretanto enriquece, olhando sempre para si mesmo, onde a justiça
deixa impune todos os actos ilícitos e esquece seu povo trabalhador.
A esse o que lhe deram fruto desse dia da liberdade, uma parca
reforma, a liberdade de falarem, o acesso a estudos, e a facilidade de singrarem
na vida.
Ultimamente quando tudo parecia bem, volta esse tal governo
endividado, não por culpa do povo mas dos que o governam, 40 anos depois e retiram-lhes
tudo que lhes deram, em nome duma Troika que ninguém entende,
As reformas dos idosos, o direito á saúde, o emprego á gente jovem
etc.
Pedinte nas ruas, velhos que morrem á mingua, novos que apesar de
estudados deambulam por este país fora sem arranjarem emprego, e pior que tudo
crianças á fome.
Os capitães esses que aqui fizeram o 25 de Abril numa guerra de cravos, ficaram com uma excelente reforma enquanto os combatentes do
Ultramar apenas restou um mural “janota” em Lisboa onde constam os nomes de
todos os heróis dessa guerra.
Continuam lutando por um lugar decente neste Portugal a quem tanto
deram, pelo apoio as suas mazelas provocadas por essa guerra de onde muitos saíram
estropiados.
Como participante activa de toda esta vergonhosa descolonização, e regressado
o Portugal sem nada recomeçando do zero pela segunda vez uma vida de trabalhos
e lutas, sinto uma revolta por tudo que passei e estou a passar neste País sem
futuro.
Se me perguntarem onde estava no 25 de Abril, pois estava num país
maravilhoso onde todos tínhamos o que suamos para ter e era nosso, onde apesar de tudo em paz com a vida e agora o que
temos suamos de igual modo e nada temos.
40 Anos depois vamos festejar o 25 de Abril porquê?