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Moçambique
continuava com a guerra, os militares iam sendo substituídos conforme as
comissões de serviço terminavam.
José chegara
da Metrópole, franzino dentro de uma farda de camuflado e com olheiras
profundas denotando um imenso cansaço, motivado pela longa viagem até aos
confins duma Africa nunca imaginada.
Eram muitos,
um batalhão de homens dentro de berliets que iam chegando no vagaroso batelão
que os fazia atravessar o Rio Zambeze.
Mais uns
solavancos na rampa junto á mãe d’água e eis que por fim chega á cidade.
Os olhos
deparam-se logo com um edifício de varanda virada para o emboque, cheio de
meninas que atrevidamente lhes acenava.
Foi de espanto
a surpresa, continuam até ao fim da avenida onde se situava o quartel, que
seria o términus da viagem naquele dia, pelo menos para alguns pois outros
seguiriam dias depois para outros destinos onde existiam acampamentos militares.
Anoitecia cedo
naquelas terras, até que todos se acomodassem nas casernas, e fizessem o
reconhecimento do quartel, o dia terminaria inevitavelmente com o corpo pedindo
descanso.
Domingo, era o
dia seguinte á chegada, uma alvorada bem cedo tira-os da caserna, uma formatura
para revista às tropas, um mata-bicho na messe e tarde livre.
Desciam a
avenida aos magotes, já de farda esverdeada e boina militar, num descobrir a cidade,
os tascos e os cafés.
O calor já
aperta, e a cidade quase morta, atiram-nos para um qualquer lugar a emborcar
“2M” e “Laurentinas”, acompanhadas dos pratinhos de petiscos característicos da
terra.
Perguntam ao
empregado, indicações sobre a cidade o que não levam a melhor pois o
entendimento da linguagem não funciona, e acabam por desistir e resolverem
conhecer aos poucos a cidade.
Foram passando
os dias e os meses, arranjando conhecimento e falando das saudades de quem
haviam deixado em Portugal.
José deixara
noiva, com imensas promessas feitas, um amor que se dizia eterno e reforçado
nos aerogramas que trocava.
Nos primeiros
tempos era o desespero da chegada dessas missivas, que foram enchendo uma caixa
de lata que havia arranjado para as guardar sigilosamente, longe de quem as
pudesse apanhar e ler o que daí viria o gozo entre eles na caserna.
Com receio
disso, e com a caixa já bem cheia, entrega-a à guarda de uma jovem com quem
havia feito amizade.
Judite, morena
de cabelos longos, olhos castanhos, elegante nos seus 18 anos promete
guarda-la, e levando-a para casa colocando num canto do guarda-vestidos
escondida de possíveis curiosidade lá de casa.
Jamais a
abriu, no entanto foi estranhando que ele jamais lhe pedira para ali colocar mais.
Mas isso que
importava, a amizade foi crescendo as tardes ao fresco em conversas banais, as
idas á matiné, os picnics ao fim de semana á Caroeira ou Boroma, as patuscadas
no Mufa sempre acompanhado de malta amiga, eram divertidas, a música os risos
enchiam os tempos que estavam todos juntos.
Os bailes,
esses, eram inesquecíveis, sentavam-se numa mesa que se tornava enorme pelo
números de pessoas que se juntavam, divertiam-se todos trocavam-se os pares nas
danças num conviver saudável.
E foi passando
o tempo, já amainara as saudades da Metrópole, estava-se bem na cidade, a
população era simpática, sentia-se quase em família e a guerra custava menos a
passar.
Á tardinha, la
desciam ao centro e por ali ficavam num convívio que aos poucos foi despertando
outros interesses.
Afinal, as
moças apesar de recatadas, eram diferentes mais desinibidas, conversavam e riam
numa alegria incomparável.
Já pensava em
ficar por ali em acabando a comissão.
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