Chove e faz frio, enrolo-me mais entre os lençóis de flanela
quentinhos e olho a janela do quarto.
O vidro molhado deixa ver a chuva forte que caí, não gosto desta
chuva húmida e fria .
Recordo outras épocas de chuva de que tanto gostava.
"Noutras terras, cheirava a chuva, aquele cheiro a pó de terra
molhado que entra pelas narinas e nos acalma.
Começava de mansinho e caía quente e nos abraçava beijando-nos
com seus pingos mais grossos, e estendíamos os braços e a recebíamos
prazerosamente, entre sorrisos e danças, chapinhando nas poças, até que alguém gritasse:-
Saí da chuva!
Eram chuvas quentes, bem-vinda, os campos estavam secos os matos
já quase sem pasto para a bicheza que neles habitam, o povo olhava para os
campos na esperança de ver um rebento verde nos campos que semeara.
E as crianças que correm à chuva e dançam à rodam e brincam
enquanto se molham nos pingos mornos que caem.
As mulheres correm a recolher as coisas que espalhadas em redor
das palhotas não se poderiam molhar, e recolhem-se com as crianças.
À porta os rostos alegres espreitam a chuva cair, uma tentação
para as brincadeiras.
Quase sempre demorava pouco tempo mas por vezes caía mais e mais
forte e incomoda mas precisa e tocam os tambores de alegria.
A estrada que por ali passa torna-se um rio e vai deixando a
terra vermelha tão molhada que tudo se cobre de lama por onde a agua passa.
E a canalha que ao primeiro interregno correm e escorregam no
matope brincando entre gritos de alegria.
Não era triste a época das chuvas, era alegre para os todos.
Dias depois era ver o chão cobrir-se de verde os capins rompiam
os campos rebentavam dos milhos semeados, os animais em manadas bebiam nas
poças deixadas, era sinal que não haveria fome.
E lavava-se o corpo e a alma, naquela chuva morna e boa, que também
enchia o rio, para logo de seguida abrir o sol."
Há dias que aqui chove sem parar uma chuva fria que apenas enche
os rios que nos dá a água no resto do ano, uma chuva que nuns anos vem fora de
tempo e tudo estraga, noutros anos não cai e tudo morre da seca.
Uma chuva que irrita nos molha os casacos pesados que usamos
para o frio, um vento que nos empurra e parte os guarda chuvas, onde o sol se
não vê dias seguidos.
Não gosto destas chuva, nem desta terra queria voltar aos meus
embondeiros onde o tempo me ajuda a sorrir, me liberta do peso das roupas e
posso caminhar descalça pelos caminhos de matope de terra vermelha.