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De idade avançada caminhava D. Inês arrastando os pés, equilibrando-se
entre dois sacos de plástico que transporta nas mãos.
Baixinho vai remoendo palavras imperceptíveis, de testa enrugada
zangada com a vida e com os anos pesados de trabalho já passados.
Toda a vida comprara na loja do bairro o necessário para confeccionar
a sua alimentação diária, até porque aproveitava e dava dois dedos de conversa
com quem estivesse por lá o que a tirava de uma solidão de velhice que já vivia
há muito.
Naquele dia o merceeiro cobrou os sacos plásticos, uma norma
desses políticos que alem de lhe roubarem na reforma agora até os saquitos onde
sempre levou a hortaliça e o arroz lhe queriam cobrar.
Pois que 20 escudos (ainda calculava o valor dos 10 cêntimos pela
moeda antiga) fazia-lhe falta para outras necessidades.
Chegando a casa, sentada na soleira da porta aproveitando os
raios de sol ainda mornos, deita mãos a obra enquanto se recorda velhos tempos
de menina la aldeia, que via a mãe a fazer as taleigas onde guardavam os
cereais que colhiam e levavam ao moinho.
Não era difícil, bastava uma tira de pano e uni-la pelos lados, recorda
ela, ainda consigo fazer igual mais pequenos que lhe desse jeito a carregar as
compras, e não se haviam de rir dela.
E assim fez, na velhinha máquina de costura que deixara de cozer
há muito, fez o primeiro saco cortado de uma saia que já não vestia, depois
outro de uma pano branco que por casa andava, e outro e outro.
Tomou-lhe o gosto e até mesmo os foi enfeitando ora com uma flor
bordada rustíco, ou com um folho em volta.
Como o tempo não custava a passar, entretida entre tesoura linha
e agulhas.
Na mercearia já lhe chamam a D.Ines dos sacos pois já oferece
alguns às amigas na troca de ideias novas e modelos.
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O último, vira ela numa revista, bastava colocar um botão e ficavam
dobradinhos.
E assim foi aproveitando tecidos que dormiam no fundo de uma
gaveta, queimando a solidão e revivendo tempos idos.
Aí daqui não levam eles nem um tostão em troca de um simples saco
plástico, dizia ela de olhos brilhantes e sorriso maroto.
E assim os sacos plásticos perdiam para esta gente que apesar da
idade deram volta ao assunto.