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Dá-me
um beijo meu velho, oh deixa-te dessas coisas dizia o companheiro
sentado à porta de casa num banco velho pintado de verde ou pelo
menos parecia tal era o desgaste da pintura.
Então
você me dá um beijo ou não, teimava ela debruçada sobre as costas
cansadas de seu homem.
Havia
já tantos anos que se haviam juntado, para uma vida cruel e
difícil, os filhos já criados apenas restavam eles e a casa de
pedra de telhas velhas perdida no campo de onde iam tirando as couves
e as batatas para a sopa, e algum pito que por ali esgravatava o chão.
A
noite caía e ela carente encostou os lábios ao rosto de barba
crescida do seu velho e beijou-o.
Num
repente vira a cara dizendo, fica queda mulher.
Ela
puxa de outro banco e senta-se a seu lado , acomoda o avental em
frente ás pernas, evitando que alguém maldoso deite o olhar, e
cruza os braços olhando o infinito e o por do sol que já se ia
recolhendo.
Ficam
os dois em silencio, mas ele pelo canto do olho ia vendo a silhueta
da mulher que já não recordava há quantos anos que era sua
companheira.
Como
era linda pensa ele, corpo esguio cabelo escuro apanhado num rolo
preso por ganchos largos, olhar meigo e mãos esguias.
Ninguem
diria que seria ela a sua sorte na vida.
Olha
as mãos calejadas , tez queimada pelo sol, esguia como sempre fora,
cabelos brancos baços de brilho escondidos num lenço escuro a que
habituara por causa do sol no verão e do frio no inverno.
Deita
o braço por cima dos ombros da companheira e puxa-a para ele, quase
desequilibrando-a do banco, enquanto lhe diz, anda vamos para dentro
já a noite esfria.
E
ao passar pela porta estreita da casa dá-lhe o beijo que ela pedira,
enquanto de olhos húmidos e voz tremula lhe diz, beijo-te todos os
dias que para ti olho mulher.
Com
o meu olhar, beijo-te as mãos quando me trazes o café pela manha,
enquanto andas ao meu lado pelos campos, quando me dás o comer, me
vestes e me aconchegas a roupa de noite.
Então
sou eu que te não beijo meu velho, e chegando os lábios ao rosto do
seu homem, beija-o, não sabe se um beijo de amor, de gratidão ,
amizade ou respeito apenas sentiu que era doce e gostoso.
Quase
jurava que debaixo das rugas seu rosto corara, como acontecera em
solteira.
Olham
um para o outro e sorriem como que envergonhados dos beijos, sei lá.
Entre
duas pessoas que se acompanham vida fora entendendo-se, cuidando um
do outro, que se completam afinal é o quê?