De tudo que escrevo, ontem chamaste-me saudosista, talvez o seja porque não?
Afinal conto historias que vivem na minha memoria, tal como meu pai fazia, e tenho saudades da minha terra.
Pois esta noite sonhei que estava refastelada numa cadeira de
lona de braços cruzados sobre a nuca olhando esta paisagem serena e calma.
Em redor o barulho da água que corre de mansinho, e o pio
dos pássaros que mergulham procurando alimento, mais aqueles barulhinhos das
noites de Africa.
Aqui e ali o brilhar do pirilampo numa dança sincronizada.
E sinto dentro de mim uma paz incomensurável, lembro-me de ti,
do nosso amor ao longo de tantos anos.
Faz um calor gostoso, uma brisa fresca que me acaricia o rosto
como os beijos que me dás.
Não queria acordar, não e não, sinto-me tão bem, apenas faltava a
presença das netas para quebrar o silêncio com as suas traquinices e
gargalhadas, elas aqui também seriam felizes.
É domingo, acordo, abro a janela e chove, faz um frio gelado, a
paisagem é tão triste, volto para a cama ainda dormes, aconchego-me a ti e
sussurro baixinho:
-Sou saudosista sim, e serei sempre, com muito gosto!