Faz um calor infernal, as temperaturas
fazem lembrar as de outros tempos em outras terras.
Sentada numa rede no meu quintal vou
apanhando o pouco fresco que a noite vai trazendo enquanto o sol se retira no
universo.
Ao longe a grande bola de fogo desce
vagarosamente despedindo-se do dia entre um céu de nuvens escassas que sempre o
acompanham à mesma hora.
Fecho os olhos e recordo:
Numa cadeira de lona verde, na varanda
colonial que circunda a casa, descansa, vestido com umas “cabedulas” de caqui e
uma camisola interior de algodão perfurada e ao pescoço uma toalha pequena que
lhe ensopa o suor, e de quando em vez afasta as moscas ou mosquitos quando a
noite cai.
O silêncio apenas quebrado pela música do
velho transístor a pilhas deixa-o sonolentos, pelo jardim apenas os grilos ou o
rastejar de algum bicho se ouve.
Reina a paz, aquela paz exterior igual a
paz interior que sentimos.
E as horas vão passando o sono já convida a
regressar ao quarto mas estava tão bem ao fresco.
E passam as horas, e dormita-se na cadeira
chegando mesmo a pegar no sono pesado que descansa o corpo e renova a alma.
Pela madrugada refresca, aquele ar fresco
da cacimba das noites já arrefece o corpo, ou se retira para dentro de casa
para acabar o descanso, ou como muitas vezes, deixa-se estar naquele torpor do
sono bom, então puxa a camisa que estava pendurada na cadeira e cobre o peito,
aconchegando-se um pouco até madrugada.
Bem cedo ao lado de casa já o movimento se
adensa com as mulheres que passam pelo carreiro de terra feito à força de
tantas vezes por ele caminhar, de latas à cabeça em direcção ao rio.
É a criança que chora, elas que conversam
alto e as aves que já cacarejam na capoeira.
É dia, abre os olhos que abarcam todo
infinito, um olhar prazeroso num começo da manhã..
Lentamente levanta-se da cadeira em
direcção ao duche pois da cozinha já vem o cheiro de comida.
Na mesa da sala já posta, o pão fresco e
café acabadinho de ser coado.
Pouco depois já sentado, de brilhantina no cabelo e vestindo uma fresca balalaica, eis que chega da
cozinha o "matabicho", num prato pejado de batatas fritas ladeado por um bife
carregando um ovo estrelado.
Lentamente toma o pequeno-almoço, findo o
qual sai para trabalhar.
No Jeep descapotável, sente o fresco da
manha no rosto e vai indo para o inicio de mais um dia de labuta, mas antes
passa no café onde já outros o esperam para a conversa matinal.
Descansado, feliz enfrenta o dia que se
tornará quente mas à hora do almoço no ar condicionado de qualquer " boteco" ameniza
o calor enquanto almoça ou vai a casa onde cumpre a sesta na penumbra das
janelas cerradas que não deixa o fresco escapar.
A tarde que passa rápida entre uma cerveja
e outra até ao cair do dia.
E é nas esplanadas de mesas cheias de
garrafas de cervejas vazias e pratos de petisco que se esparramam com os amigos
em conversas de fim de dia onde as gargalhas os acompanham
E regressa a casa para o jantar, toma o seu
duche, veste as "cabedulas" de caqui e é a cadeira verde de lona que desde sempre
o espera para terminar a noite.
Já pensara um dia desses arranjar um burro
de campanha sempre ficava mais cómodo mas até lá, fica-se pela cadeira de lona
que já tem seu o corpo marcado.
Como eram felizes na terra onde as horas
são maiores que os dias.