Maria
caminhava cabisbaixa rua a cima, rua abaixo, algo que ninguém
entendia.
Uma vizinha mais
curiosa chega junto dela e
viu-lhe no rosto uma lágrima
que fugira de seus belos olhos pretos.
-Que
tens Maria perdeste alguma coisa
-Não
tia Isabel ando aqui por andar.
Admirada
com tal resposta Isabel mulher já entrada na idade, vestida de preto
retira-se com um até mais logo.
Maria
muda de caminho, e assim percorre quase todas as ruas da aldeia, numa
tristeza só, enquanto quem a vira passar toda a manha neste afazer
comenta as mais impossíveis e maldosas opiniões.
Por
ela passa uma velhinha que a vira crescer, sempre de sorriso nos
lábios, olhos enormes, pretos tais como o seus cabelos que
entrançados lhe davam sempre um ar de garota.
Tinham
vindo de outra aldeia, dizia-se que perdera
os pais há muito e esta velhinha foi olhando por ela até que fosse
adulta.
Ensinara-lhe
as primeiras letras, as primeiras orações, os trabalhos do campo.
Pela
tarde sentadas no velho e
desgastado
degrau da casa de granito ia
ensinando-lhe
a arte de trabalhar com uma
agulha, sempre dava jeito remendar uma roupa ou pregar um botão.
Aprendeu
arte das agulhas que teciam as camisolas e meias para o inverno, e
com as amigas ao pouco aprendeu a bordar
.
Como
muitas diziam era o enxoval que um dia iria levar.
Ensinara-lhe o que sabia e aos poucos deixou menina sabedora de tudo da vida como sobreviver caso ela um dia estivesse entre quatro
tábuas ao cimo da nave da
linda igreja de talha dourada
onde tantas vezes se ajoelhava a rezar.
A
velhinha nada tinha de valor, apenas umas arrecadas que já tinham
sido herança de avó
e da mãe,
como não tivera filhos foi a Maria que num serão chamou e a luz da
velha candeia retirou-as das suas orelhas e pendurou-as na da
rapariga.
Não
madrinha, assim
a chamava, não posso aceita-las, são suas e um dia as levará para
a cova.
Esse
dia chegou mais rápido que pensara e a madrinha despediu-se deste
mundo.
Ao
vesti-la para a colocar na sua ultima morada, a mão direita não se
abria, tanto tentaram desistiram.
Quando
lhe colocaram
as mãos cruzadas sobre o peito onde enrolaram um rosário como era
costume lá na terra, reparou uma crepieira que da mão direita
aparecia um papel.
Tiraram-lhe
cuidadosamente o mesmo onde se encontrava escrito em letras bem
desenhadas apenas :
-As
minhas arrecadas, e a minha
casa, são para a minha
afilhada Maria, que Deus a guarde e jamais se esqueça da madrinha.
E
assim fizeram entre lágrimas e choros foram entregues as devidas
arrecadas a sua nova dona.
De
longe vieram pessoas amigas ao funeral, e qual não foi o espanto de
todos quando se soube que Maria afinal era filha da pobre velhinha
que fora mãe solteira e de vergonha, como era naquele tempo, sempre
encobriu este segredo.
Maria
no dia que caminhava cabisbaixo todas as ruas, afinal procurava um
brinco que se desprendera de sua orelha e o havia perdido.
Tinha
que o encontrar, remexeu todas as ruas e caminhos por onde andou, e
já cansada recorre a igreja, ajoelha-se aos pés de Virgem Maria
pedindo-lhe ajuda e perdão a sua madrinha pelo facto de ter perdido
a única coisa que lhe deixara.
Quando
se levanta para sair da igreja, no chão vê algo a brilhar, baixa-se
pois era o brinco que a fizera correr tanto toda a manhã.
Diz o povo que fora a madrinha que o ali colocara,
e Maria ajoelha-se novamente e chorando agradece o ter encontrado o
seu único tesouro.
(Esta
historia contou-ma uma velhinha dizendo que era o milagre da santa da
terra, contos antigos que passam de geração )