Talvez a Adelaide Martins ainda se recorde, eu lembrei-me hoje de
mais uma história do nosso tempo de gaiatas.
Corria o ano de 1965 não sei precisar o mês mas recordo que não estava
muito calor, o que talvez fosse na estação das chuvas.
Estudávamos no colégio, o único que existia á época.
Pejado de bons professores quer freiras ou militares em serviço ou até
mesmo particulares ali lecionavam os alunos que de bem comportados até os houvesse
na percentagem de 30% para os restantes que faziam das suas frequentemente.
Fazíamos as coisas mais marotas que se pode imaginar, numa cumplicidade
entre internas e externas valendo apenas a presença forte de uma freira que todos
ainda recordam pela sua seriedade e pulso de ferro com que geria o colégio. A saudosa
Irmã Maria.
Era uma elite fantástica de muito bons professores, uns mais condescendentes
que outros que nos iam transmitindo os saber para futuro de todos nós.
Professor Gonzaga, Drª Manuela Paz, Drª M.do Rosário Crispim, o
hoje deputado do PS Vera Jardim, etc.etc. Por ultima a Drª. Maria dos Anjos
Cipriano.
Esta última enamorou-se de um militar (alferes Mata) e marcaram o
casamento.
Era primeira vez que tínhamos um casamento de professores, logo aí
a turma do 5º ano, e que turma juntou-se para comprar a prenda de casamento.
A “vaquinha” foi feita e foram nomeadas duas representantes que se encarregariam
de fazer a compra do presente.
Imagine-se que foram. Eu e a Adelaide Martins.
De dinheiro da algibeira da bata rumamos direito a casa Christos Luscos
á época a mais conceituada pela diversidade de presente que tínhamos a escolha.
Após muito escolhermos chegamos ao consenso e comprou-se um par de cálices
de cristal, lindíssimos com umas aplicações em metal dignamente expostas numa
caixa de veludo azul.
Pagamos e pedimos que não fosse feito o embrulho pois deveria ser
mostrado a toda a turma no que havia recaído a escolha do presente que todos
participaram.
E assim foi no intervalo da aula, cuidadosamente abrimos e orgulhosamente expusemos o presente para que todos apreciassem.
Não deixamos que ninguém tocasse neles, e acabada que fora a
exposição fomos fazer o embrulho, senão quando reparamos que um dos cálices estava
partido na fina ligação do pé de cristal.
Ficamos atónitas, e agora que fazer, certamente teriam
acondicionado mal dentro da caixa.
Comprar outros seria impossível pois o presente era caro e não tínhamos
como.
Sem nada dizermos fechamos a caixa cuidadosamente como se de nada tivéssemos
dados conta e fizemos um lindo embrulho cuidadosamente decorado com um cartão
de felicidades comprado para o efeito e assinado por todos.
Nesse mesmo dia decidimos
que seria entregue o presente não fosse o diabo tece-las e acabasse a outra
taça também quebrada.
Lampeiras caminhamos até casa da professora que morava ainda com os
pais no prédio que fazia esquina para a rua do Hospital, onde por debaixo funcionava
um café.
Ela morava no 1º andar, subimos as escadas e pedimos licença para
fazer a entrega do presente.
Não passamos da porta, seu pai que na altura era jornalista se me não
falha a memoria, chama pela senhora que talvez não contando com a visita apareceu
com a cara coberta de um creme branco ao que viemos a saber mais tarde que
seria uma mascara de beleza.
Agradeceu o presente e despediu-se amavelmente de nós.
Saímos como meninas super bem comportadas, até chegarmos ao mais ou
menos 50 metros
da casa, desatamos numa risota, pois o presente estava entregue e se estava
partido certamente a culpa seria sempre do lojista e não da simpatia das suas alunas.
Na aula seguinte agradeceu a toda a turma enaltecendo a beleza das
peças que foram e muito bom gosto.
Acho que nunca ninguém soube deste episódio a não ser eu e a Adelaide
Martins, companheira das maiores garotices da minha vida de estudante.