O baile demorou até de madrugada., e nem o raiar do dia com o sol a inundar-me o quarto, e a voz firme do meu pai me fez acordar.
Sábado após a Pascoa era certo e sabido, salão do Sporting e estávamos em noite do Baile da “pinhata”.
Não sei a que refere essa tal da pinhata, apenas sei que é impensável faltar, afinal era mais uma noite de dança juntinhos quando a musica do conjunto Alvorada, intervala com o twist e o rock que nos põe a rodopiar de tal modo que já não era da temperatura o calor que sentíamos.
Casa cheia, gente bem vestida apesar de corpos ao léu nos decotes mais ou menos profundos e as minissaias acabadinhas de entrar na moda.
Eles, aperreados dentro de fatos de casaco e gravata, mais os tropas que tendo chegado das Metrópoles ainda não tinham percebido que a Balalaica nestes casos podia substituir a vestimenta tornando-se mais fresca.
Em redor da pista de baile mesas se espalham bem compostas pela presença das famílias, guardiãs das filhas que bailam.
Vão trocando conversa, ouvem-se risos há alegria, e quando a musica lhes agrada, como agora um tango de " Carlos Gardel", puxam pela esposa e vão dançar.
Enche-se o salão bem decorado, do meio do tecto tem pendurada uma enorme bola colorida de papel na tentativa de imitar uma pinha, dela caiem fitas de varias cores, a meio da festa as meninas pegarão cada uma em sua que ira ser puxada pois apenas uma ficará presa e essa da direito a um premio
Não imagino o premio que possa ser, talvez um electrodoméstico oferta de Soel afinal o “Bolinhas” alinha sempre nestas coisas.
Olha para o lado, dançam todos, numa animada noite de baile.
Lá fora na varanda do clube que dá para o campo de futebol enche-se de gente que procura o fresco ou o bar que fica ali mesmo do lado direito procurando refrescarem-se com uma Laurentina fresquinha, uma laranjada Fanta ou talvez um Vinto que apesar de muito doce, fresquinho matava a sede.
Os mais velhos não dispensam o velho Whisky com soda e muito gelo servido num copo afunilado com um risco azul quase ao fundo, mais não era que a marca certa da dose a servir.
Das portas laterais os rapazes vão deitando o olho a ver que poderão convidar para dançar, talvez mesmo uma troca de olhares cúmplices combinados de antemão.
E vamos dançando, uma e outra vez e as horas vão passando, as roupas já transpiradas colam-se ao corpo, os mais cavalheiros oferecem o seu lenço impregnado do cheiro a after shave para colocar na mão da dama ao poisar a sua.
Uma delicadeza a que já estamos habituadas, o que não invalida aos poucos ir apertando o braço de modo a encostar a cara á nossa.
E dançaremos até altas horas, até que aos poucos vamos regressando a casa e no salão apenas restam os noctívagos já meios “esquinados” até que o sol os mande abandonar o local.
E acordei enfim, ao som duma imensa chuva que não nos larga há meses, onde o frio me afasta definitivamente de numa realidade atrás descrita, onde não há festas como aquelas nem alegria de outrora.
Oh saudades desses tempos!