Todos
os meus amigos sabem quase toda a historia da minha vida, pelo menos
de como fui criada com todas as mordomias possíveis e com um
espírito alegre como se o mundo fosse um mar de rosas.
Mas
a vida foi mudando tal qual o meu sorriso foi desaparecendo apesar de
ter que dar graças a Deus o que até hoje me tem dado.
Quando
estou perto das gentes da minha terra a minha alma abre-se e volto a
ter aquela felicidade que tinha, mas infelizmente nem sempre isso é
possível.
Talvez
a vida me esteja a dar momentos que nunca esperei encontrar e que me
deixa só, imensamente só que muitas vezes sinto o rosto molhado por
lágrimas que caem quase sem dar por isso.
Não
sei se será depressão ou revolta por muitas coisas que tenho
encontrado erradas, ou por responsabilidades que tenho a meu cargo
quando deveriam ser repartidas.
Chego
à janela e vejo pessoas com quase nada sorrindo e conversando sobre
que tema seja, mas quando se despedem vão com um ar feliz.
Podem
ter apenas o que colhem da terra para comer, que nunca tenham visto
sequer o mar mas vivem felizes.
Quando
se despedem repartem o que levam com o interlocutor, uma couve ou
algo mais que levam.
Como
as invejo por serem felizes à sua maneira, pobres mas felizes.
Nas
festas religiosas reúnem todos os filhos mesmo os emigrados e
sentado á mesa vão contando as peripécias nos países onde vivem,
entre um português arrevesado e a língua do país onde vivem.
É
uma mesa cheia de amor, saudades que aproveitam minuto a minuto, que
se alegram com um copo de vinho na taberna, onde encostaram a barriga
há horas e saem depois quase de gatas.
Penso
muitas vezes se a culpa é minha ou desta gente que tem felicidade
para esbanjar nesse dias.
Recordo
então quando cheguei de Africa, na casa dos meus avós dormia num
colchão de palha de milho cobertos com as mantas de trapos que no
inverno nos aquecia.
A
lareira enorme onde o fogo nunca de apagava e as panelas enormes de
três pernas tinham diariamente o seu lugar marcado, uma com o comer
dos animais outra com uma sopa de todos os legumes.
Com
os meninos chegados de África a “trempe” de ferro onde apoiavam
a sertã ou a panela para fazer o restante almoço.
E
era naquele calor imenso que saía da lareira que nos aquecíamos, e
deitávamos os olhos ao que se cozinhava.
Na
rua havia sempre quem desse a saudação e parasse para dois dedos de
conversa, mesmo que á cabeça levassem uma carga pesada de comida
para os animais ou um molho de lenha.
E
recordo essa gente quando vou a aldeia, continua na mesma, os
idosos sentados ao sol em bancos de pedra, sempre prontos a desenrolar um conto, os novos agarrados aos TM.
É delas que tenho ouvido tantas e tão lindas historias do antigamente, como dizem.
Tudo
isto não passa de um desabafo perante uma imagem que encontrei na
net, duas mulheres enchendo o colchão de palha onde certamente
alguém descansará de um dia de trabalho.
É isto que me faz sentir só, muito só, apenas vendo os filhos e netos por pouco tempo pois os afazeres e a escola ocupam-nos, e a mãe a envelhecer.
E o frio que nos confina a um canto junto a alguma fonte de calor.