Não
quero esquecer a minha terra, a pequena cidade dum país maravilhoso
onde nasci, brinquei, andei na escola com os meninos negros, e nunca
vi racismo.
Nasci
em Tete após meus pais já há´muito viverem em África, alias meu
pai desde os 9 anos e minha mãe desde que casou com ele era ainda
menina e moça.
Recordo
varias cidades onde havia paz, onde se misturavam as meninas para
passear, ir à matine ao domingo a tarde, assentar-nos no muro do
jardim da alfandega debaixo das lindas acácias floridas ou nas
escadas que se encontravam a um canto do muro que dava para o rio.
Quantos
namoricos aquela mãe de agua escondeu de quem passava na rua durante
o passeio dos tristes.
Trinta
anos depois de ter sido obrigada a sair desta terra calma e linda,
quente onde o inverno se confundia com o verão, visitei-a, aliás
como muitos dos meus amigos que ficaram com o carimbo de África no
coração.
Desci
do avião, no mesmo campo onde pousou meu filho pela primeira vez que
andou de avião, onde chegavam aos magotes gente com a esperança de
um futuro melhor.
Eram
todos bem recebidos, as vizinhas logo se apressavam a convida-los
para um chá com um belíssimo bolo acompanhar.
Quando
o avião se fez à pista já eu da janela via a cidade com uma
alegria desmesurada até que aterrou numa pista de terra, como sempre
fora e ao por o pé no chão, aquele chão bendito que Deus me dera
como privilegio lá nascer, deu-me vontade de o beijar.
E
volta os mesmos embondeiros, a mesma paisagem e por sinal na gare as
mesmas pessoas que deixei como se do dia anterior fosse.
Fui
recebida com uma amizade de irmãos, fiquei em casa de amigos que
tudo fizeram para que me sentisse bem. Matei saudades do peixe pende, do amendoim torrado etc.À noite na sala de visitas lá
estávamos a recordar velhos tempos, como me sentia tão feliz.
Nesta
viagem levei a minha filha como que para confirmar a maravilha de
gente onde eu nascera e vivera até ela nascer.
O
dialeto que ao ouvir ia recordando e de vez em quando aplicava.
Levaram-me
a ver a cidade toda, Moatize incluído, onde logo de reconheci a casa
onde havia vivido até aos meus 7 anos, a casa dos vizinhos do lado
que ainda hoje mantenho contacto aqui em Portugal o filho com quem
eu brincava, por de trás a casa do Sr. Cravo onde moravam com duas
filhas que Graças a Deus também já as encontrei aqui em Portugal.
As
casas estavam abandonadas pois iriam aumentar a procura do carvão e
iriam fazer outras sei lá onde.
Era
miúda mas recordei Moatize perfeitamente, bastava olhar para a “
chipanga 5,” assim de chamava a mina que erguia seus ferros como
que marcando o local da extracção do carvão.
A
confirmar tudo isto encontrei os filmes que meus pai fazia na altura
e lá está guardo todo este passado.
Fui
sempre grande defensora de Moçambique que como por cá se diz, podem
tirar-nos Moçambique mas jamais sairá do nosso coração.
Esta
semana dou com os olhos de uma noticia no jornal:
O
rapto de um Português que já lá vivia há 8 anos, pediram o
resgate que com a dificuldade de cada colega se juntaram e pagaram na
esperança que o soltassem mas MATARAM-NO.
Que
gente é esta?
Portugueses
que estão ajudar Moçambique a recompor-se que deixam família em
Portugal e acabam por regressar entre quatro tábuas.
Outro
português raptado há 6 meses ainda não apareceu.
Que
gente é esta que passaram de amistosos a assassinos.?
África acabou com muita pena minha, ficam as recordações de quem por lá
passou, nasceu e viveu, mas
apenas como se tivesse sido um sonho bom que todos nós tivemos.