Andei
a vasculhar gavetas esquecidas, coisas perdidas recordações de
passagens da vida.
O
que encontrei, muitas coisas , mais uma vez um reviver do passado de
amigos, amores esquecidos, tempos tão antigos.
No
meio de tudo isto, fotos antigas, montes de cartas dentro de
envelopes amarelecidos pelo tempo ainda com respectivo selo no canto
superior direito, alguns já com os cantos dobrados mas sobressaindo
ao carimbo que lhes colocavam por cima como que prendendo-os para que
não fugissem e se perdesse o seu conteúdo.
Cartas,
muito bem escritas com uma letra certinha, outras nem tanto, mas que
entre elas guardaram através do tempo exactamente o que queriam
transmitir , fossem elas brejeiras ou de cariz mais serio mensagens
de amizade, conquista de corações recados de amores tudo o que
guardavam.
E
guardaram tão bem que ainda sinto o cheiro de perfume que usualmente
lhes acrescentavam bem como flores secas chamando atenção para um
qualquer dia que se haviam encontrado.
Flores
que colocavam entre as paginas de um livro até que secassem, e se
tornassem o símbolo de um momento mais especial.
E
vou abrindo e relendo uma a uma, fecho os olhos e revejo toda essa
gente que enviou as ditas, e as lembranças caem em catadupa, umas
fazem-me sorrir outras deixam-me os olhos marejados de lágrimas.
Uns
que já partiram mas ficou a sua marca eterna na folha alva de papel
apenas sobressaindo a tinta de caneta “Pelikan”, outros a
distancia separou-nos pela imposição da vida.
E
era assim naquele tempo, a corrida à caixa postal, abrir o envelope
com um gancho do cabelo rasgando apenas a lateral do envelope, depois
abstrair de tudo e todos e beber avidamente as palavras nelas
contida, ate dobrar a meio e esconder no bolso da bata ou num seio.
Relia-se
mil vezes a mesma coisa, até chegar a altura de as arrumar
direitinhas numa caixa perdida no fundo escondido do guarda-fatos.
Hoje
já não se escreve uma carta, é “cafona” coisas de velhos,
apenas se escrevem mensagens cheias de palavras codificadas que não
deixam rasto nem saudade pois sucumbem a um simples “delete” do
telemóvel.
É
tão bom ler e escrever, sentir o peso da folha de papel apenas
manchada pela escrita indelével mas tão cheia de sentimentos.
Pois
é acontece a quem guarda tudo, e depois encontra o mundo.