Fátima /Prof.Jesus
Posso
não ter 1 euro na carteira, posso viver na província, enfrentar
muitas vicissitudes da vida, mas tudo passa quando me falam em
encontrar pessoas que fazem parte do meu passado.
palavras que me colocam noutra galaxica é encontros com gente da
minha vida anterior.
Sim
porque cheguei a conclusão que tenho a minha vida dividida em duas
etapas, a primeira vivida em terras para alem mar que me fez muito
feliz, tive uma família fantástica até que formei a minha
própria família numa felicidade enorme, tive amigos que eram reais,
aqueles amigos que poderei dizer mesmo que eram como família pois
não havia festa ou desgosto que não tivesse um braço que me
conformavam, ou juntos festejávamos.
Foi
uma vida que recordo com imensa saudade e me toca muitíssimo quando
meio século passado, as encontro sem esperar, sem deixarem de ser
quem foram anteriormente.
Depois
a segunda etapa da vida, vivida após um imenso turbilhão a que
fomos obrigados, e que todos nós já conhecemos.
É
dessa vida passada que vou falar porque é dessa vida que recordo
sempre com um sorriso ou gargalhada quando me recordo ou recordam
algumas passagens e sinto que passo a ser outra pessoa tão diferente
da de hoje, mesmo após as rugas já espreitarem o canto dos olhos e
os netos já nos alegrarem os dias.
Contam-se
pelos dedos de uma mão os almoços e reuniões das gentes desse
tempo que faltei.
Alguns,
dado o tempo que já passou ou seja nada mais nem menos que meio
século, alguns já tropegos não faltam a juntar-se e recordar
tempos passados.
Tudo
isto para recordar um almoço desta vez de uma companhia militar que
esteve destacada em Tete, de onde se espalhavam pelas terras e
aldeias em redor da cidade defendendo-nos de uma guerra que existiu,
onde morreram muitos jovens militares que ficaram em cemitérios hoje
cheios de capim quase desaparecidos naqueles matos, onde deixaram uma
vida em prol de uma guerra inglória e esquecidos pelos governos que
já passaram.
Acompanhei
meu marido a um desses almoços anuais, como tantos que por ai as
gentes do outro lado do mundo teima em fazer para nunca esquecerem
uma vida vivida juntos em escolas, colégios, cidades etc.
Este
era de militares a que ele pertenceu também, e juntaram mais de 120
pessoas.
Aos
poucos, apesar de pessoalmente nunca ter sido militar, fui conhecendo
uma ou outra pessoa que por
lá passaram e chegaram a ser professores no colégio onde
estudávamos.
A idade e do tempo já passado, frente a frente não me conhecerem,
apenas depois de me identificar uma luzinha na memoria se lhes
acendeu e todos os anos passados vieram ao presente.
Só
meus professores da altura encontrei 3 pessoas, a professora de
francês Dr. Maria dos Anjos Cipriano, Dr. Vera Jardim professor de
Historia, e Prof. Jesus da disciplina de desenho.
Como
recordamos alegremente aqueles tempos.
Bastou dizer o meu nome e em
cima de mim caiu um chorrilho de historias passadas comigo mesmo,
pelo meu “bom comportamento” da época.
E
rimos, rimos muito, procuraram por muitos colegas alunos à época,
mais aqueles que melhor se comportavam à
altura.
Imagine-se o
Prof. Jesus recordar-se de uma “patifaria” minha em que
sinceramente hoje reconheço não ser a mais bem comportada, e que
atribuo a culpa a alegria que enchia a minha alma e a minha alegria
do coração, ou seja ser a cómica da sala de aula.
Contava ele que
numa aula em que já estaria cansado de me chamar atenção, se chega
junto a mim e me pergunta se não tinha vergonha de ser tão mal
comportada, ao que eu rapidamente respondi:
Doutor, vergonha
eu tenho, mas coloquei numa folha de couve, veio uma cabra e comeu!
Foi gargalhada
total porque realmente eu era mesmo assim mas boa aluna era o que me
valia.
Só o Prof.
Gonzaga me endireitou, e a Irmã Maria que Deus os tenha.