E passaram os dias, de muita incerteza, muita dor, muita
ansiedade. Agarrei-me à fé e com Deus fui acalmando a alma sentindo a esperança
de que tudo correria pelo melhor.
Por experiências familiares a coisa não correu bem, no entanto
como disse na última publicação sempre temos a esperança que connosco será
diferente.
No meu rosto nunca desapereceu o sorriso nem as palavras de
esperança “desvalorizando” o assunto, como se pudesse ser possível, mas para
que ela se sentisse confortável sem medos.
Comprei-lhe lindos pijamas, floridos de cores vivas casaquinhos
de malha a condizer não fosse o frio apoquenta-la dentro do hospital, engano
meu ali dentro era quentinho e confortável, muitas revistas para ir lendo e
abstrair-se da realidade, enfim tentando um faz de conta para que a cabecinha
dela se distraísse da realidade.
Na enfermaria gente ainda jovem o que deu para conversas “light”
todas enfrentando corajosamente seus casos.
E foi operada, nesse dia deixei de existir neste mundo, sentia-me
num vazio enorme com movimentos robóticos, até á hora da visita das 14h30. Lá
estava eu subindo as escadas até ao 6º andar, deitando os bofes pela boca mas
senti ser necessária para acordar da letargia a que me entreguei entre orações
e silêncios para que não me acorresse maus pensamentos.
Ela já estava na enfermaria, ainda dormente da anestesia, mas bem-disposta.
Falei pouco com ela disse-me que tinha muito sono, passei-lhe a
mão pela cabeça e disse que descansasse, aconchegando-lhe a roupa entre tantos
tubos que a rodeavam.
E dia a dia foi recuperando, sempre de sorriso nos lábios,
atendendo o telemóvel dos mais queridos que queriam saber das melhoras, e entre
conversas e pequenos passeios no corredor do hospital.
Ao fundo havia uma enorme janela onde o sol entrava, era ali que
se sentava nos cadeirões que dispostos lado a lado onde descansavam os doentes.
O pessoal do hospital, impecável, de trato afável e competente com todos os doentes, desde médicos às senhoras da limpeza.
Uma mulher corajosa, mutilada quase no fim da vida mas lutando
com todas as forças.
Uma mãe coragem, que comparei as heroínas do “Far-West”, de
armas em punho defendendo a vida e a família.
Tem ido ao curativo, e para tal levantamo-nos as 07h00 da manha
ainda escuro, mas parte da costura é apenas um risco sarado, não fosse o pedaço
retirado deixaria que se esquecesse depressa do acontecido.
Ainda a ajudo a tomar banho, vestir e despir pois o braço ainda
em recuperação, vamos ver como corre daqui para a frente, que Deus a ajude a
não sofrer porque já teve a sua quota parte que bastasse.