A tarde já
findava, fazia frio, no lusco-fusco da noite caminhava apressada de olhos
postos no chão perdida nos pensamentos, tinha pressa ia apanhar o comboio
para Cascais, senão quando sente que uma mão lhe prende o braço.
Acorda da
dormência dos pensamento e procura saber que a prendeu das suas pressas.
A sua frente,
com alguns anos mais, alguém que perdera e jamais esquecera ao longo de muitos anos.
Trocam olhares silenciosos e caem nos braços um do outro.
Sem palavras,
apenas olhando-se nos olhos recordam tempos idos que a vida separou.
O comboio
havia partido, ele pega-lhe pela mão atravessa a rua e sentam-se numa mesa da
tasca onde encostados ao balcão marinheiros e velhos bebericavam o copo de um
vinho carrascão.
Os homens
olham de soslaio como que reivindicando a presença de uma senhora no
local.
Não seria o
lugar ideal para este encontro mas nem se davam conta do que se passava em
redor, e num balbuciar de palavras atabalhoadas e baixinho vão tentando falar
sem quererem quebrar a magia que se havia instalado.
·
- Que é feito de ti, há tantos
anos que te não via, desapareceste sem nada dizer.
E há tanto
para falar e o tempo urge, ambos têm compromissos que lhes não deixam tempo
para delongas, olham o relógio que não pára.
Sem nada dito
e muito para dizer, prometem um encontro com mais tempo.
Já cai a noite
e separam-se, ela já no comboio leva a mão ao peito como que tentando segurar seu coração que bate acelerado.
Encosta a
cabeça ao vidro gelado da carruagem fecha os olhos vê-se transportada para
terras de Àfrica onde havia vivido aquele grande amor e recorda tudo, mais
ainda os beijos e caricias do tempo de namoro.
O chiar da travagem da carruagem anuncia a chegada ao destino.
Com um
sorriso melancólico, limpa uma lágrima que teimam em cair.
Caminha apressada, aconchega-se ao casaco de fazenda que recebera na cruz vermelha quando da chegada a Portugal, mas continua com frio.
No dia seguinte, voltaria a passar no mesmo sitio será que iria encontra-lo novamente?
Não haviam trocado contacto telefónico algum.
Sem dar por isso chega a casa, num bairro social onde já nem os noctívagos se vêem na rua, sem dar por isso entra em casa.
O cansaço é muito, estende-se no sofá por momentos atirando com os sapatos a um canto, e perdendo a noção do tempo este vai passando até que lhe dá a fome.
Vai à cozinha prepara um café e uma sandes, que devora rapidamente.
De regresso ao sofá procura uma velha caixa de fotos que ainda não abrira desde que chegara daquelas terra.
Rostos diferentes bem mais jovens, gentes que a vida separou, enquanto vai passando uma a uma recorda tudo que teimara esquecer até que adormece no meio de tanta emoção.
Talvez um dia, quem sabe voltará a encontra-lo.