João Teixeira e Maria da Ressureição
Ontem foi o dia dos avós, mais um dia que
inventaram a juntar a tantos outros na moda nos últimos tempos.
Mas não é que concordo com este dia
dedicado aos avós.
Afinal são aqueles seres que estão um pouco
esquecidos e no âmbito da família deveria ser os mais lembrados, afinal a vida começou
por aí.
Pois dei por mim a pensar quem pouco
conheci os meus avós, ou seja os meus avós paternos estavam do Brasil e a minha
avó Maria da Ressureição, faleceu tinha o meu pai 9 anos, logo não a conheci
mesmo.
O meu avô Joao Teixeira faleceu aqui em Portugal já muito velhinho era
eu ainda miúda e estava em Moçambique.
Apesar disso tenho boas memórias pelas palavras
que meu pai nos foi contando.
Alberto Pina e Maria da Anunciação
Dos meus avós maternos conheci mais cedo,
o meu avô Alberto Pina, porque os filhos o mandaram ir a Africa para conhecer a
vida que levavam naquelas terras longínquas das quais nem faziam ideia como
seriam.
Claro que adorou, ter ao fim de muitos anos
os filhos todos juntos num almoço onde a mesa era enorme bem composta e com
muita alegria.
Ver aquele mundo de terras por cultivar
fez-lhe confusão pois la para os seus lados todos os arretos eram aproveitados
para cultivar fosse o que fosse.
Uma vez fui com ele ao campo já aqui na
aldeia, corremos tudo e eu já cansada admirava como aquele velhinho caminhava
de passos miudinhos e apressados deixando-me para trás.
Levava um cesto no braço e uma “seitoura”
(foice) afiada pois no regresso levaria alguma erva fresca que cortaria no
lameiro dos Mancões, propriedade perto de casa, para uns coelhos que tinha.
E ali se punha de joelhos num instante
enchia o cesto, ora eu pensado ser fácil pedi que me deixasse cortar também um
pouco.
Certo é que á segunda tentativa logo ele me
tirou a ferramenta das mãos pois alem de estar a estragar a erva corria o risco
de ainda cortar os dedos.
É que aquilo tem ciência que a menina
africana não sabia nem aprendeu.
A minha avó conhecia depois quando da nossa
debandada de Africa, acolheu-nos na sua casa da aldeia onde para mim era tudo
muito estranho.
Eram agricultores fartos, á custa de muito
trabalho para criar 7 filhos e os netos que lá por casa iam ficando.
Senhora simpática e risonha, de uma genica
enorme, só parou porque partiu uma perna quando descia do tractor e a idade já
muito avançada não deixou que recuperasse.
Sentava-se a soleira da posta onde uma
roseira já de tronco grosso pelo tempo que ali estava, enfeitava a entrada com
rosas vermelhas.
No fim da vida juntava os bisnetos em redor
a si e contava-lhe bastas vezes a nau Catrineta, um poema de um anónimo
referindo-se a viagens longas para o Brasil ou para o Oriente.
Certamente muitos de vós não se recorda mas
eram assim que ela a tinha decorado e nunca esquecido apesar da idade.
Lá vem a Nau Catrineta,
que tem muito que contar!
Ouvide, agora, senhores,
Uma história de pasmar."
Passava mais de ano e dia,
que iam na volta do mar.
Já não tinham que comer,
nem tão pouco que manjar.
Já mataram o seu galo,
que tinham para cantar.
Já mataram o seu cão,
que tinham para ladrar."
"Já não tinham que comer,
nem tão pouco que manjar.
Deitaram sola de molho,
para o outro dia jantar.
etc etc
Meus filhos aproveitaram bem a companhia
dela, aprenderam muito dos usos e costumes antigos, das orações que hoje já assim
não é, aprenderam mesinhas, a cortar o quebranto, mau olhado, pés
torcidos etc rezas do povo.
Enfim passavam o tempo em seu redor e no
fim la iam a casa buscar bolachas e fatias de bolo que partilhavam entre todos
num lanche ao fim da tarde.
Ela alinhava escondendo a sua parte no
bolso pois como tinha diabetes não a deixavam comer doçuras mas tenho a certeza
que estas não lhe faziam mal, eram doçuras com muito amor dos netos e bisnetos
, um grupo de crianças afinal.
Tenho imensas recordações
dos avós por isto ontem recordei-os a todos com um sorriso sereno rezando para
que esteja na santa paz do senhor.
1 comentário:
Olá, boa tarde.
Eu conheci o seu avó Alberto, conhecido por Alberto Figueiró e a avó Anunciação; entrei algumas vezes na sua casa, no Lugar, com a Luísa (sua bisneta). Eram vizinhos dos meus avós maternos, Antoninho Matela e Maria de Jesus.
Também me lembro ela contar a historieta da Nau Catrineta.
Como se aproxima o mês de Novembro, um mês muito espiritual porque pela tradição cristã é o tempo em que trazemos à memória os nossos antepassados e ente-queridos que a morte já levou queria no Blog dos Forninhenses lembrar com a saudade que lhe é merecida, os que deixaram a sua marca na história de Forninhos, por terem dado o seu melhor e por terem feito maior a sua terra, são património da aldeia pois por ali passaram e de alguma maneira deixaram a sua marca e por isso fazem parte da História Colectiva de Forninhos.
Se me permitir irei levar a foto e algumas partes do seu texto para o "Memorial da nossa Gente" fazendo referência a si ou ao seu blog. Posso?
É muito importante lembrar as pessoas que partiram em tempos mais antigos, mas que continuam a ser memória viva em quem os recorda.
Um abraço forninhense para si e família.
Paula Albuquerque.
Meu email: aluap_a@hotmail.com
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