Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O PRESENTE SEM SORRISO

Hoje deu-me a saudade, saudade dos tempos felizes que vivi num país que hoje é um mero sonho, um país que me recebeu de braços abertos, onde nunca me lembro de deitar uma lágrima, apenas sorrisos e muita felicidade, onde o tempo passou depressa demais , mas aproveitamos ao máximo a estadia nele.
Hoje, um país á deriva tomado por ódios racistas, onde andar na rua é um perigo, onde deixaram degradar tudo numa cidade que chamavam a Suiça Africana, o que me deixa muito triste.

Éramos tão novinhos, dois filhos pequenitos que iniciaram a escola nesse altura, com toda a segurança.
Fardado o meu filho parecia um homenzinho, enquanto a pequena brincava em casa às senhoras pois a idade ainda era pouca.
Cidade onde dei aulas no Colégio Português, onde aprendi a falar melhor o inglês tirando cursos no Speciment College que mais tarde muito me serviram.

Tinha uma casa linda, com um jardim relvado onde as crianças brincavam, uma casa sempre aberta aos amigos que precisavam de ir ao medico ou para outros fins.

Tinha amigos portugueses vizinhos que fugiram à pressa, amigos que jamais esquecerei.

Os Simas, Os Matias,Os Borges, a Violante etc heróis que na dificuldade de arranjarem emprego não se puseram a chorar mas sim foram a vida, em casa com a ferramenta que possuíam fazendo o que nunca imaginei que pudessem fazer e venderam as patentes ao país, chegaram mesmo receber louvores do Governo desse país.

Era por estas casas que á tarde lá estava para conversar, fazer tempo que o marido chegasse a casa.
Um dia iludidos vendemos tudo e viemos para este País.
O sorriso desapareceu dos nossos rostos, passamos ser uns zé ninguens a quem chamavam retornados culpados de todos os males que aconteciam, usurpadores de empregos, os tudo, e mais algumas coisas.
Voltei a terra da felicidade e a vida sorriu-nos novamente, passamos a morar numa "flet" pequenina mas mesmo no centro da cidade, junto a embaixada onde trabalhava e ao jardim publico onde
 á tarde as crianças tanto brincavam.

Passaram tempos e quis o destino que tivessemos novamente que voltar, as bombas estoiravam nos marcos do correio, deixou de se poder andar na rua descansados, mais uma vez fizemos as malas e regressamos.

Meu marido já tinha emprego, longe de casa é certo mas para inicio de vida era uma benção.
Mais tarde arranjei também um emprego num escritório de uma fabrica de borracha cujos donos eram retornados mas longe da cidade também.

E por aqui ficamos, numa luta para esticar o dinheiro, apertando o cinto até ao ultimo furo, mas aos poucos conseguimos, fazer a nossa casinha , e mais tarde formar os filhos.

Foi duro mas vencemos, com a ajuda de Deus conseguimos hoje uma vida boa, só o meu sorriso se perdeu por esses caminhos da vida.



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