Sinto
uma tristeza tão grande, como se me tivessem roubado a alma.
Uma
tristeza igual aquela que os colonos que partiam para Moçambique e
deixavam os pais ainda novos de cabelos pretos e cheios de força e
quando regressaram encontraram um velho cabisbaixo de cabelos brancos
como se ninguém tivesse tratado dele durante a sua ausência.
Aconteceu-me
o mesmo agora quando vi as fotos da minha cidade tiradas recentemente
por amigas que a foram visitar.
Estive
30 anos ausente daquela terra mas na minha memoria ficou sempre a
beleza das casas na avenida, as gentes que me abraçaram.
O
colégio onde aprendi as primeiras letras até mesmo a igreja em que
me casei.
Comigo
foi a minha filha, para lhe mostrar o que era meu por nascimento
aquela terra, assim encontrei quase tudo na mesma, algumas coisas
mais velhotas mas havia passado 30 anos, as gentes as mesmas, as ruas
os edifícios públicos e mesmo até as minhas casas pareciam
novinhas, bem conservadas.
Fui
mostrar os escritórios e a oficina do meu pai a minha filha, os
presentes dono receberam-me de braços abertos puseram-me a vontade
para matar as minhas saudades.
Dei a volta a cidade toda que por
incrível que pareça já tinha um semáforo junto ao Gouveia da
Rocha, na altura uma loja chinesa.
Passeei
a pé pelas ruas indicando a minha filha os sítios por onde
passávamos, entramos nas lojas indianas procurando capulanas,
viramos na rua que vai dar a Pensão Alves, até a casa onde
estavamos alojadas.
Mostrei-lhe
onde era a mesquita e de quando em vez parava em frente a uma loja e
contava-lhe por exemplo onde havia comprado a minha mala de canfora,
o sari cor de rosa com brilhantes espalhados que depois fiz um
vestido e passagem de ano, a loja do Bega, Do Valy Ossman grande
amigo de meu pai, e até mesmo o casamento de uma filha para a qual
fui convidada etc etc
Os
escritórios da Mina eram na antiga Foto Sousa onde se tiravam as
fotos mais “ins” na cidade, e para meu espanto num compartimento
ainda estava o cenário, o holofote e a “chaise longue” que
usavam para ficar como fundo na foto.
Revivi
toda a minha vida. Voltei feliz porque parecia te-la deixado no dia
anterior e haviam passado 30 anos.
Esta
semana duas amigas foram a Tete, as fotos que vi estava tudo
abandonado, as casas que resistiram pintadas de corres garridas, os
passeios cheio de buracos, as estradas alcatroadas desapareceram.
Que
aconteceu na minha cidade mataram-na, abandonaram-na para olharem
mais pela cidade nova que nasceu do outro lado da ponte?
Ninguém
tratou dela, deixam-se cair os prédios mais emblemáticos, numa
cidade que já foi importante.
Pois
estou triste, mas continuarei a escrever memorias dos tempos felizes
naquela terra.
Entrada da cidade, ao fundo a Serra da Caroeira.
Avenida Principal
Rádio Clube
avenida da Univendas
Um amigo antigo
Ainda o carro nas bombas de gasolina
Casa do Betinho e Sr.Carreira
Farmacia de Tete
Univendas
Malambeira.
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