Hoje acordei
ao som estranho de um ritmo cadenciado, sonhei talvez ou quase certo pois já o
não ouvia há muitos anos.
Uma figura de
costas curvadas, sentado em uma pedra no terreiro da aldeia indígena que
rodeava a frondosa sombra da árvore secular onde se reuniam os antigos quando da
resolução de alguma lei local ou "milando".
Pois essa
figura de "cabedulas" encardidas e camisa já rota sentara-se só tendo entre as
mãos um instrumento não muito conhecido pelos Europeus, e fazia a sua música de
olhos postos no infinito como se tivesse sido transportado para longe, muito
longe dali.
O ritmo era
cadenciado mas repetitivo, no entanto melodioso acompanhado pela voz do tocador
que mais se assemelhava a um lamento.
E talvez fosse
ou apenas a cadência de um viver a que já se acostumara naqueles matos.
E passava
horas naquela ausência até que algo ou alguém o interrompesse.
Dei a volta
para olha-lo de frente, ver que instrumento emanava tão doce melodia, eis
quando ele acorda do seu entorpecer e se levanta rapidamente.
Assustado ou
talvez não pois eles sempre o faziam quando algum de nós de aproximava, talvez mais
por respeito, ainda hoje não sei.
Pois na mão o
tal instrumento, feito por ele mesmo base de madeira e farpas de metal trabalhadas para que emitissem as notas precisas quando o tocassem.
As caricas de
laranjadas também ali eram pregadas, pelo motivo de melhor som ou só por “chibante”.
A ampliação do som era colocar o instrumento dentro de uma cabaça seca, enquanto
tocavam.
Não recordo o
nome deste instrumento, mas penso que se chamaria “Mbira”.
Perguntei o
que tocava e como mas o seu silêncio levou-me a pensar que não seria ele a
tocar mas alguém de outro mundo tal era o seu subconsciente.
Era usual os
homens tocarem bastas vezes, sós ou acompanhados quando o tempo lhes tomava a
alma e descansavam o corpo.
E pela noite
fora, a música misturava-se com o silêncio dos sons do mato e adormecia neste
embalo.
Como se toca,
não sei mas tenho um instrumento destes pendurado na minha sala.
Dele jamais
sairá música alguma mas fica a recordação dos dia e das noites que os ouvia
tocar.
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