05Setembro
2019
A
visita do Santo Padre a Moçambique ultrapassou todas as
expectativas.
Vi
grande parte da reportagem sobre a chegada e a estadia em Maputo.
Foi
em Maputo mas toda a província de Tete rejubilou com esta visita
como
se dela dependesse o futuro e a esperança de todos os Moçambicanos.
Já
deixei o pais há uns bons anos, mas foi apenas parte de mim pois a
minha mente e o meu coração ficaram e ficaram para sempre no terra
que me viu nascer, onde fui imensamente feliz, onde casei e tive meus
filhos.
Foi
com grande mágoa que deixei aquele país, não por vontade própria
mas por nos terem obrigado a deixa-lo elas má políticas de
Portugal.
Voltei
lá trinta anos após, muito tempo havia passado mas quis retornar as
minhas raízes e foi um momento de felicidade inarrável.
Ao
sair do avião tive a tentação de beijar o solo daquela terra tão
amada onde respirei o ar puro que vinha misturado com o odor do capim
pisado e do calor que se fazia sentir.
Fui
recebida pelos braços amigos das gentes que me não esqueceram, mais
saudades se instalaram no meu peito.
A
única tristeza que tive foi ver que muitos cristãos haviam-se
afastado da nossa fé, trocando-a por outras que existiam ou
chegaram de novo.
Diziam
eles, na fraca cultura e ignorância, que o nosso Deus se havia
esquecido deles.
Escolheram
outra religião que os acolhia e ajudavam na terrível etapa em que
ficaram economicamente uma vez que as missões e igrejas por aquela
terra fora ficaram ao abandono como todos sabem por motivos óbvios,
e relembro o padre Castro que perdeu a vida e tanto deu aqueles que
nele e em Deus acreditavam.
Entendo
as suas razões porque a fé e a crença estavam na altura
debilitadas.
Ontem
a chegada a Moçambique do Papa Francisco alegrou todo um povo que
julguei perdido e esquecido do cristianismo.
Eram
aos milhares, cantando e dançando , um mar de gente que se espalhava
em redor do local onde chegou, uma fileira imensa ladeando as
estradas apesar de já a noite ter caído.
Francisco
levou a mensagem de Paz e reconciliação, e no pavilhão de
Maxaquene deixou palavras que tocaram todos no coração. (discurso
no fim da pagina para memoria futura).
Não
esquece as vitimas dos ciclones e dirige-lhes palavras de coragem e
conforto, bem como mensagem aos jovens.
Desde que chegou, Francisco tem saudado os esforços pela paz em Moçambique e tem apelado aos jovens para que sejam persistentes e protagonistas da pacificação.
Na sua intervenção, o Presidente moçambicano referiu que as palavras do Papa foram importantes para a «mobilizacão» de apoio e conforto moral.
Dia
seguinte 06 Setembro 2019:
Papa
Francisco chega ao Estádio do Zimpeto, em Maputo, para missa campal
(Estádio
da Machava o local histórico de declaração da independência, em
1975, e aquele onde o Papa João Paulo II celebrou uma missa em 1988.
)
Desde
as 07 da manhã as gentes ja enchiam totalmente o estádio , chovia e
a temperatura (cerca de 15 graus)
O
altar coberto com uma capulana como que unindo todos na mesma oração.
O
Papa Francisco chegou pelas 09:00 ao Estádio Nacional do Zimpeto,
em Maputo, para a missa campal com que encerrou a visita ao país.
No
interior do papa móvel, Francisco deu uma volta na pista de
atletismo do estádio, benzendo todos os presentes, antes de se
dirigir para o palco que hoje será o altar da celebração.
As
bancadas iluminaram-se com o ‘flash’ de centenas de telemóveis,
que se assemelharam a velas enquanto o papa móvel circulava.
Durante
a missa, o Papa fará a sua última intervenção no país, no dia em
que se assinala um mês após a assinatura de um acordo de paz entre
Governo e Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), oposição.
Terminada
a missa, perante grande ovação e lenços acenando a
tão ilustre visita , seguiu para o aeroporto despedindo-se de todos
os Moçambicanos.
DISCURSO DO
SANTO PADRE
Muito
obrigado pelas tuas palavras de boas vindas; muito obrigado também
por todas e cada uma das representações artísticas que vós
realizastes.
Vós
me agradecíeis por ter reservado tempo para estar convosco. Que pode
haver de mais importante para um pastor do que estar com os seus? Que
há de mais importante para um pastor do que encontrar-se com os seus
jovens? Vós sois importantes! Precisais de o saber, precisais de
acreditar nisto: vós sois importantes! Porque não sois apenas o
futuro de Moçambique, ou da Igreja e da humanidade; vós sois o
presente: com tudo o que sois e fazeis, já estais a contribuir para
ele com o melhor que hoje podeis dar. Sem o vosso entusiasmo, os
vossos cânticos, a vossa alegria de viver, que seria desta terra?
Ver-vos cantar, sorrir, dançar, no meio de todas as dificuldades que
viveis – como justamente nos contavas tu – é o melhor sinal de
que vós, jovens, sois a alegria desta terra, a alegria de hoje.
A
alegria de viver é uma das vossas caraterísticas principais, como
se pode sentir aqui! Alegria partilhada e celebrada que reconcilia e
se torna no melhor antídoto capaz de desmentir todos aqueles que
querem dividir, fragmentar ou contrapor. Como faz falta, nalgumas
regiões do mundo, a vossa alegria de viver!
Obrigado
por estarem aqui as diferentes confissões religiosas. Obrigado por
vos animardes a viver o desafio da paz e a celebrá-la hoje como
família que somos, incluindo aqueles que, não fazendo parte de
nenhuma tradição religiosa, também estão a participar... Estais a
fazer a experiência de que todos somos necessários: com as nossas
diferenças, mas necessários. Vós juntos – assim como estais –
sois o palpitar deste povo, onde cada qual desempenha um papel
fundamental, num único projeto criador, para escrever uma nova
página da história, uma página cheia de esperança, paz e
reconciliação. Quereis escrever esta página?
Fizestes-me
duas perguntas, mas acho que estão ligadas. Uma delas: Como fazer
para que os sonhos dos jovens se tornem realidade? A outra: Como
fazer para que os jovens se envolvam nos problemas que afligem o
país? Vós, hoje, apontastes-nos o caminho e ensinastes-nos como
responder a estas perguntas.
Exprimistes
com a arte, com a música, com a riqueza cultural que mencionavas com
tanta ufania… exprimistes uma parte dos vossos sonhos e realidades;
em todas elas, se mostram modos diferentes de assomar-se ao mundo e
fixar o horizonte: sempre com olhos cheios de esperança, cheios de
futuro e também de ilusões. Vós, jovens, caminhais com dois pés
como os adultos, mas, ao contrário dos adultos que os mantêm
paralelos, vós colocais um atrás do outro, pronto a arrancar, a
partir. Vós tendes tanta força, sois capazes de olhar com tanta
esperança! Sois uma promessa de vida, que traz em si um certo grau
de tenacidade (cf. Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus
vivit, 139), que não deveis perder nem deixar que vo-la
roubem.
Como
realizar os sonhos, como contribuir para a solução dos problemas do
país? Gostaria de vos dizer: não deixeis que vos roubem a alegria.
Não deixeis de cantar e expressar-vos de acordo com todo o bem que
aprendestes das vossas tradições. Que não vos roubem a alegria!
Como vos disse, há muitas maneiras de olhar o horizonte, o mundo, o
presente e o futuro. Mas é preciso acautelar-se de duas atitudes que
matam os sonhos e a esperança: a resignação e a ansiedade. São
grandes inimigas da vida, porque normalmente nos impelem por um
caminho fácil, mas de derrota; e a portagem que pedem para passar é
muito cara… Paga-se com a própria felicidade e até com a própria
vida. Quantas promessas de felicidade vazias, que acabam por mutilar
vidas! Certamente conheceis amigos, conhecidos – ou pode mesmo ter
acontecido convosco – que, em momentos difíceis, dolorosos, quando
parece que tudo lhes cai em cima, ficam prostrados na resignação. É
preciso estar muito atento, porque esta atitude «faz com que te
encaminhes pela estrada errada. Quando tudo parece estar parado e
estagnante, quando os problemas pessoais nos preocupam, as
dificuldades sociais não encontram as devidas respostas, não é bom
dar-se por vencido» (Ibid.,
141).
Sei
que a maioria de vós gosta muito de futebol. Recordo um grande
jogador destas terras que aprendeu a não se resignar: Eusébio da
Silva, a pantera negra. Começou a sua vida desportiva no clube desta
cidade. As graves dificuldades económicas da sua família e a morte
prematura do seu pai não impediram os seus sonhos; a sua paixão
pelo futebol fê-lo perseverar, sonhar e continuar para diante...
chegando a marcar 77 golos para este clube de Maxaquene! Não
faltavam razões para se resignar…
O
seu sonho e vontade de jogar lançaram-no para diante, mas igualmente
importante foi encontrar com quem jogar. Bem sabeis que, numa equipa,
não são todos iguais, nem fazem as mesmas coisas ou pensam da mesma
maneira. Cada jogador tem as suas caraterísticas, como podemos
descobrir e desfrutar neste encontro: vimos de tradições diferentes
e inclusive podemos falar línguas diversas, mas isto não impediu de
nos encontrarmos. Muito se sofreu e continua a sofrer, porque alguns
se julgam no direito de determinar quem pode «jogar» e quem deve
ficar «fora do campo», e que passam a vida dividindo e contrapondo.
Hoje vós, queridos amigos, sois um exemplo e testemunho de como
devemos agir. Tu perguntavas-me: Como empenhar-se pelo país? Tal
como estais a fazer agora, permanecendo unidos independentemente
daquilo que vos possa diferenciar, procurando sempre a oportunidade
de realizar os sonhos por um país melhor, mas… juntos. Como é
importante não esquecer que «a inimizade social destrói. E uma
família destrói-se pela inimizade. Um país destrói-se pela
inimizade. O mundo destrói-se pela inimizade. E a inimizade maior é
a guerra. E hoje vemos que o mundo se está a destruir pela guerra.
Porque são incapazes de se sentar e falar. Sede capazes de criar a
amizade social. Não é fácil; sempre é preciso renunciar a
qualquer coisa, é preciso negociar, mas, se o fizermos a pensar no
bem de todos, podemos fazer a experiência maravilhosa de deixar de
lado as diferenças para lutar juntos por um objetivo comum. Quando
se consegue encontrar pontos coincidentes no meio de tantas
divergências e, com esforço artesanal e por vezes fadigoso, lançar
pontes, construir uma paz que seja boa para todos, isso é o milagre
da cultura do encontro» (Ibid.,
169).
Recordo
o provérbio que diz: «Se quiseres chegar depressa, caminha sozinho;
se quiseres chegar longe, vai acompanhado». Trata-se sempre de
sonhar juntos, como estais a fazer hoje. Sonhai com os outros, nunca
contra os outros; sonhai como sonhastes e preparastes este encontro:
todos unidos e sem barreiras. Isto faz parte da «nova página da
história» de Moçambique.
Jogar
juntos ensina-nos que, inimiga dos sonhos e do compromisso, não é
apenas a resignação, mas também a ansiedade. Esta «pode tornar-se
uma grande inimiga, quando leva a render-nos, porque descobrimos que
os resultados não são imediatos. Os sonhos mais belos conquistam-se
com esperança, paciência e determinação, renunciando às pressas.
Ao mesmo tempo, é preciso não se deixar bloquear pela insegurança:
não se deve ter medo de arriscar e cometer erros» (Ibid.,
142). As coisas mais belas formam-se com o tempo e, se algo não te
saiu bem à primeira, não tenhas medo de voltar a tentar, uma vez e
outra. Não tenhas medo de te equivocar! Podemos equivocar-nos mil
vezes, mas não caiamos no erro de parar porque há coisas que não
correram bem à primeira. O pior erro seria abandonar, por causa da
ansiedade, os sonhos e a vontade de um país melhor.
Por
exemplo, tendes diante dos olhos aquele belo testemunho dado por
Maria Mutola, que aprendeu a perseverar, a continuar a tentar, apesar
de não ver cumprido o seu anseio da medalha de ouro nos três
primeiros Jogos Olímpicos que disputou; sucessivamente, na quarta
tentativa, esta atleta dos 800 metros alcançou a sua medalha de ouro
nas Olimpíadas de Sidney. A ansiedade não a deixou absorta em si
mesma; os seus nove títulos mundiais não a fizeram esquecer-se do
seu povo, das suas raízes, mas continuou a olhar pelas crianças
necessitadas de Moçambique. Como o desporto nos ensina a perseverar
nos nossos sonhos!
Gostaria
de acrescentar outro elemento importante: não deixem de fora os
vossos idosos.
Também
os vossos idosos podem ajudar para que os vossos sonhos e aspirações
não estiolem, não sejam arrebatados pelo primeiro vento da
dificuldade ou da impotência. Os idosos são as nossas raízes.
«Pensai bem! Se uma pessoa vos fizer uma proposta dizendo para
ignorardes a história, não aproveitardes da experiência dos mais
velhos, desprezardes todo o passado olhando apenas para o futuro que
essa pessoa vos oferece, não será uma forma fácil de vos atrair
para a sua proposta a fim de fazerdes apenas o que ela diz? Aquela
pessoa precisa de vós vazios, desenraizados, desconfiados de tudo,
para vos fiardes apenas nas suas promessas e vos submeterdes aos seus
planos. Assim procedem as ideologias de variadas cores, que destroem
(ou desconstroem) tudo o que for diferente, podendo assim reinar sem
oposições. Para isso, precisam de jovens que desprezem a história,
rejeitem a riqueza espiritual e humana que se foi transmitindo
através das gerações, ignorem tudo quanto os precedeu» (Ibid.,
181). As gerações anteriores têm muito a dizer-vos, a propor-vos.
É verdade que às vezes nós, os idosos, o fazemos de forma
impositiva, como advertência, metendo medo; ou pretendemos que
façais, digais e vivais exatamente como nós. Vós tereis de fazer a
vossa própria síntese, mas escutando, valorizando aqueles que vos
precederam. Não foi isto o que fizestes com a vossa música? Ao
ritmo tradicional de Moçambique, a marrabenta, incorporastes outros
modernos, e nasceu o pandza. O que escutáveis, o que víeis cantar e
dançar a vossos pais e avós, assumiste-lo como próprio. Este é o
caminho que vos proponho: um caminho «feito de liberdade,
entusiasmo, criatividade, horizontes novos, mas cultivando ao mesmo
tempo as raízes que nutrem e sustentam» (Ibid.,
184).
Todos
estes são pequenos elementos que podem dar-vos o apoio necessário
para não vos encolherdes nos momentos de dificuldade, mas abrirdes
uma brecha de esperança; brecha que vos ajudará a pôr em jogo a
vossa criatividade e encontrar novos caminhos e espaços para
responder aos problemas com o gosto da solidariedade.
Muitos
de vós nasceram sob o signo da paz, uma paz laboriosa que passou por
momentos diversos: uns mais claros e outros de provação. A paz é
um processo que também vós sois chamados a fazer avançar,
estendendo sempre as vossas mãos especialmente àqueles que estão a
passar momentos difíceis. Grande é o poder da mão estendida e da
amizade que se joga no concreto! Penso no sofrimento daqueles jovens
que chegaram cheios de sonhos à procura de trabalho na cidade, e
hoje estão sem teto, sem família e sem encontrar uma mão amiga.
Como é importante aprendermos a ser uma mão amiga e estendida!
Procurai crescer na amizade também com aqueles que pensam de maneira
diferente, para que a solidariedade cresça entre vós e se torne na
melhor arma para transformar a história.
Mão
estendida, que nos lembra também a necessidade de nos comprometermos
com o cuidado da nossa Casa Comum. Sem dúvida alguma, fostes
abençoados com uma beleza natural estupenda: florestas e rios, vales
e montanhas e tantas praias lindas.
Infelizmente,
há poucos meses sofrestes o embate de dois ciclones, vistes as
consequências do descalabro ecológico em que vivemos. Muitos
abraçaram já o imperioso desafio de proteger a nossa Casa,
contando-se entre eles tantos jovens. Temos um desafio: proteger a
nossa Casa Comum. Aqui tendes um belo sonho para cultivar juntos,
como família moçambicana, uma bela luta que pode ajudar-vos a
permanecer unidos. Estou convencido de que vós podeis ser os
artesãos desta mudança tão necessária: proteger a nossa Casa
Comum, uma casa que é de todos e para todos.
Permiti
que vos comunique uma última reflexão: Deus ama-vos e, com esta
afirmação, estamos de acordo todas as tradições religiosas. «Para
Ele, és realmente valioso; tu não és insignificante. Importa-Se
contigo, porque és obra das suas mãos. Por isso, presta atenção e
lembra-Se de ti com carinho. Precisas de confiar na recordação de
Deus (…), a sua memória é um coração terno e rico de compaixão,
que se alegra em eliminar definitivamente todos os nossos vestígios
de mal. Não quer guardar a conta dos teus erros e, em todo o caso,
ajudar-te-á a aprender alguma coisa também com as tuas quedas.
Porque te ama. Procura ficar um momento em silêncio, deixando-te
amar por Ele. Procura calar todas as vozes e alarido interior, e para
um momento nos seus braços amorosos» (Ibid.,
115).
Este
amor de Deus é simples, quase silencioso, discreto: não esmaga, nem
se impõe; não é um amor estridente nem exibicionista; é um «amor
feito de liberdade e para a liberdade, amor que cura e eleva. É o
amor do Senhor, que se entende mais de levantamentos que de quedas,
mais de reconciliação que de proibições, mais de dar nova
oportunidade que de condenar, mais de futuro que de passado» (Ibid.,
116).
Eu
sei que vós acreditais neste amor que torna possível a
reconciliação; porque acreditais neste amor, tenho a certeza de que
tendes esperança e que não deixareis de percorrer com alegria os
caminhos da paz.
Muito
obrigado e, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.
Que
Deus vos abençoe.